MOTHERHOOD
A maternidade é um estado e também um lugar. Estado de filiação e lugar físico onde se nasce. Nenhum dos seus significados garante a presença do amor e do cuidado. Porque existe uma verdade que foi assimilada ao longo dos anos sobre o amor materno. É uma verdade que segue uma função social de preservação da espécie a qualquer custo, já que o valor deste tema socialmente incontroverso é saturado por dogmas, mas não expõe completamente as inúmeras histórias de violência que se tornam uma ferramenta significativa para abrir uma sadia discussão sobre o tema e sua insustentabilidade, tendo em vista a perene sensação experimentada por um sem número de filhas que se vêm estrangeiras em suas próprias famílias e, cada uma à sua maneira, busca uma energia secreta para alcançar a própria libertação. Em MOTHERHOOD são tratadas as relações complexas e tóxicas entre mães e suas filhas. Relações estas que transbordam de violência psicológica, física e emocional, perpetrando a coexistência de memórias negadas (quando não violentas), e uma trágica negligência emocional. Este é um projeto que busca investigar os ângulos de toxidade de tais relações, incentivando um olhar livre de julgamentos ou pressupostos morais, com o fito de estimular o quanto da identidade de cada expectador tenha sido minada ou não por tais relações. É um desafio à noção posta e tradicional de maternidade. É levantar o véu que cobre as feridas e uma grande oportunidade de olhar para si mesmo e refletir o quanto de nossas atitudes são (ou não) uma repetição daquilo que vivemos, é uma oportunidade para saber se esse sentimento predatório repercute na vida hodierna. MOTHERHOOD são as memórias que habitam a artista.
- Fabio Gatti, curador



SANGUE DO MEU SANGUE
Nesse trabalho videográfico concentro meu olhar em uma única fotografia familiar adquirida: um portal estático para um lugar do passado. Essa imagem solitária, desgastada pelo tempo, torna-se o epicentro de uma exploração sobre a natureza da memória e a ilusão da felicidade familiar perene.
A escolha de focar em uma única imagem busca intensificar a percepção das pequenas imperfeições, das sutilezas que poderiam passar despercebidas em meio a um álbum. As rachaduras no papel, o desbotamento das cores, qualquer vinco ou mancha se tornam elementos carregados de significado, testemunhas silenciosas da passagem do tempo e das experiências que moldaram aquela família. Através desta fotografia singular, questiono a construção da memória familiar, como um único instante congelado, agora destruído, pode evocar uma infinidade de sentimentos e narrativas. O antes e o depois, e a transformação como meio interpretativo.
Este vídeo é um questionamento sobre a construção sociocultural das famílias ocidentais. É um sopesar sobre a fragilidade da lembrança, refletindo sobre a nossa própria relação com o passado e a maneira como costuramos as narrativas que nos definem.
O QUE RESTOU
Este trabalho toma como ponto de partida um conjunto de fotografias antigas inglesas, retratos de famílias e casais em poses que exalam a esperança de outrora. Contudo, essas imagens não escaparam à erosão implacável dos anos, mas em um gesto que não mira a restauração, as fotografias foram transferidas para um novo suporte, e, depois, fixadas em tecido. Mais do que simplesmente fixá-las, o ato de costurar os fragmentos sobre o tecido introduz uma nova camada de investigação sobre as construções familiares e suas memórias. As linhas da costura, visíveis e táteis, são cicatrizes e, ao mesmo tempo adereços de uma felicidade pretendida, e da quase obsessiva necessidade de documentar os dias felizes, de criar provas visuais de um bem-estar familiar que se almejava duradouro.
O QUE RESTOU busca confrontar a tenuidade da memória física, e sobre o que verdadeiramente constitui a memória.




COLECIONO ENCONTROS
MINHA ALMA TEM O PESO DA LUZ. TEM O PESO DA MÚSICA. TEM O PESO DA PALAVRA NUNCA DITA, PRESTES, QUEM SABE, A SER DITA. TEM O PESO DE UMA LEMBRANÇA. TEM O PESO DE UMA SAUDADE. TEM O PESO DE UM OLHAR. PESA COMO PESA UMA AUSÊNCIA. E A LÁGRIMA QUE NÃO SE CHOROU. TEM O IMATERIAL PESO DA SOLIDÃO NO MEIO DE OUTROS.
- Clarice Lispector
COLECIONO SAUDADES