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COMO REGISTRAR MEMÓRIAS


Talvez você seja como eu: ao pensar em viajar, não me interessa somente o destino, mas aprecio muito a preparação e todas as partes do caminho, e o que ele me oferece como nova experiência.

E se você pensar bem, isso pode se aplicar a praticamente tudo na vida.



Um passo por vez

E pensando na minha “alma de narradora de memórias”, o que eu quero dizer é que o resultado (os registros) é muito interessante, mas como e porquê isso acontece também é algo que me inquieta.

Eu poderia simplesmente estabelecer uma meta e trabalhar para alcançá-la, sem pensar em como tudo acontece, mas confesso que me encanta (e muito) o processo: cada mínimo passo para se chegar lá.

Tenho por hábito registrar memórias de quatro formas distintas que, ao final, se complementam:

1.       Escrever meu journaling e meu blog

2.       Fotografar

3.       Fazer álbuns ou photobooks

4.       E agora também estou me aventurando em vídeos

Existem inúmeros meios para que possamos guardar as nossas recordações: através de desenhos, frases que bordamos em homenagem a alguém, ingressos para entrar em algum lugar especial...

Cada possibilidade, a sua maneira, encontra a linguagem certa para contar as histórias de sua vida e das pessoas que lhe são caras.

Qual é a sua?


1.Escrevendo

Com o passar dos anos conheci muita gente que se encontrou no journaling, e nele o prazer de escrever. Então já não me sinto só quando giro pela casa com meu caderno e minha caneta preferida, para escrever não só o que está acontecendo no momento, não só o que me rodeia, mas também as impressões e emoções que tudo isso me provoca.

Tem muita gente que cultiva o mesmo hábito, sem se preocupar em mostrar o que escreve: é que o journaling é um prazer em si mesmo.

Costumo dizer que conto histórias mesmo antes de ter aprendido a ler e escrever, e depois que aprendi, não parei mais.

Sou da geração que nasceu analógica e teve que se tornar digital. Mesmo assim não consegui (ainda bem) abandonar a caneta e o papel.

Claro que também escrevo no computador, no tablet ou no telefone, mas nada se compara ao toque do papel, do som que a caneta (o lápis, a pena...) faz quando desliza pelas folha do caderno, ou à liberdade de uma página em branco.

E isso me reaproximou bastante da caligrafia e também do lettering, pois as formas que desenhamos nossas letras e como dispomos nossas frases pode dizer muito sobre nós mesmas em determinado momento da vida.

Então, mais que a significante e o significado do texto em si, também encontro beleza quando penso nas palavras como formas simples de expressão, sem me preocupar demasiadamente com a mensagem em si.

Quando paramos para olhar o ato de escrever de um modo mais simples, também encontramos outras maneiras de expressão e de prazer.

O importante, no final das contas é escrever. Seja de que forma for. Encontrar a alma das palavras que rabiscamos ou desenhamos no papel. As palavras tomam corpo e voam de volta para dentro de nossas mentes, chacoalhando nossas convicções.

E como eu disse há algum tempo para o Andrey e há uns meses para o Mauricio, eu escrevo o tempo todo.

No correr dos anos eu entendi que se tratava de um ato visceral para mim.

Há cerca de 20 anos venho lendo, pesquisando, estudando e escrevendo sobre os benefícios da escrita manuscrita, e fico muito satisfeita com tudo o que ela pode trazer de bom para cada uma de nós. É um ato simples que não requer investimento desmedido: só um papel, uma caneta e uma boa história para contar.


2.Fotografando

Sempre digo que sou uma mulher de sorte, e é verdade. Por anos tive o prazer de conviver com uma família linda, da qual o patriarca (no bom sentido) se chamava Eduardo. Ele sempre foi o pai de todos, o provedor e o bem amado (como merecia ser). Ele me indicava ou emprestava livros que eu ainda não tinha lido, fazendo com que eu avançasse cada vez mais em todas as artes, inclusive no Direito.

Em um dia qualquer ele me mostrou um livro de fotos do Man Ray e foi como se algo se desbloqueasse na minha alma juvenil. Aquelas eram as fotos mais inquietantes que eu já havia visto.

Na semana seguinte me joguei na sessão de fotografia da biblioteca de minha cidade (pois é, não existia internet na época) e pude ver outros trabalhos do mesmo fotógrafo e ainda conhecer Bresson, Duane Michals, Capa, Doisneau, MacCurry e Newton. Eu estava apenas começando a descobrir quão denso e importante esse tipo de linguagem pode ser.

Passado algum tempo, estava olhando fotos antigas com minha avó Maria. A cada imagem uma nova história com rostos que eu não conhecia, mas de quem ela tinha muita saudade.

Então que língua é essa que falamos?

A fotografia é plataforma que atende a anseios tão diferentes: de um lado a alta concepção do artístico e de outro a mais pura expressão sócio-cultural, no sentido de que as histórias e memórias registradas no álbum de fotos contam não só das pessoas retratadas, mas também de onde vêm e como viviam, os códigos sociais da época... quase uma forma íntegra de identidade.

E para mim, o que separa os dois mundos (conceitos e conveniências) é também a ponte que une esses dois grandes universos: a imagem.

Depois de um tempo, ganhei de presente minha primeira câmera reflex e fui me aventurar com uma nova linguagem, entender para que serviam tantos botões e como controlar velocidade, abertura, luz, e tantos outros detalhes, tentando não perder o efêmero do tempo. E então, como sou uma mulher de sorte (ok, eu sei que você já sabe disso), a vida me presenteou com o amigo Yuri Bittar: um professor que ensina a fotografar e a viver a fotografia como meditação e autoconhecimento.

E quando misturamos tudo isso num pote mágico, não importa se sussurramos ou gritamos para contar nossa história. O importante é que ela seja contada. Click.


3.Álbuns e Photobooks

No início dos anos 1990 tive a oportunidade de estudar nos Estados Unidos. Foi uma experiência e tanto. Ali também queria aprender alguma coisa além do que via na faculdade e decidi que seria algo de manualidade. Essa é sempre uma boa escolha quando estou estudando algum assunto sério ou fazendo um trabalho que requer muita atenção e foco.

E numa tarde de inverno entrei em uma loja em Nova York e fiz um workshop de scrapbook. Saí de lá com um álbum de fotografia recheado com algumas páginas bonitas que eu mesma tinha enfeitado, usando materiais e ferramentas especiais e com a tríade em mente: cada página ou par de páginas deve ter título, foto e journaling.

Quando voltei ao Brasil, abastecida de material para continuar o que tinha aprendido, não encontrei ninguém que soubesse do que se tratava (a febre do scrapbook demorou quase 10 anos para chegar em terras tupiniquins).

O conceito de layout do scrapbook também me ajudou nas fotos que eu fazia, pois clicava já pensando no sketch que usaria para fazer a página do álbum. Passei, depois ao Project Life, ao Travel Notebook e para o que mais o mundo das fotos e papéis ainda inventar.

Mergulhando mais a fundo na fotografia, cultivei o boudoir, como forma de exercício de autoestima para mulheres e esse tipo de foto não se encaixava com o scrapbook.

Então tomei aulas de diagramação e comecei a me aventurar nos photobooks, como uma forma de expressar um outro sotaque em uma língua que tinha aprendido: falar por imagens.

Depois fiz um curso chamado Librologie, ministrado pela Jackie Rueda e pude conhecer outras vertentes do mesmo tema.

Também é interessante pensar em aprender sobre o mesmo tema em países diferentes, o que nos dá a oportunidade de conhecer traços culturais e regras de expressão novas e diferentes daquelas com as quais estamos habituados. Não se trata apenas de aprender mais sobre o mesmo tema, mas sim exercitar-se com olhos diferentes dos nossos.


4.Filmando

Comecei com o video para dar corpo ao que aprendi há muitos anos em um curso de roteiro cinematográfico e  em outro de narrativas visuais. Minha cabeça vive cheia de ideias, e, às vezes, só a imagem em movimento pode dar conta delas.

Tive duas filmadoras antes das câmeras fotográficas reflex também oferecerem a opção de registrar em video, e muito antes de termos nas mãos esses telefones siderais que só faltam pular corda.

Mas te confesso que, apesar de ter equipamentos mega-ultra-blaster para filmar, eu adoro usar as câmeras antigas (com todo o ruído que elas produzem). Outra coisa que adoro fazer é registrar em video as imagens que estão sendo transmitidas em um aparelho antigo.

Eu fazia isso meio às escondidas, mas durante a pandemia de 2020, fiz um curso com o maravilhoso Eustáquio Neves, e vi que ele usa a mesma técnica de captação: respirei aliviada e, de novo, não me sinto mais só.

E só para lembrar: o processo é tão importante quando o resultado.


E aqui compartilhei com você algumas das maneiras que uso para registrar memórias.


Gostaria de saber o que você anda fazendo para dar vazão a todas as suas ideias e registrar todas as experiências da sua vida. E conta para mim, ali nos comentários, qual é a sua forma de registro de memórias preferido.


E por falar em memória, no primeiro episódio do podcast VITROLA - Nem Tudo É Música Para Meus Ouvidos, conto um pouco sobre a memória da guerra na Ucrânia, que virou arte no trabalho apresentado no Pavilhão Polonês da Bienal de Veneza de 2024. É só clicar aqui para ouvir.


com carinho,


 

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