TERRA INCOGNITAE
2023
TERRA INCOGNITAE
exibição de curta-metragem
6º International Women Filmmakers Festival
Izmir Sanat
Turquia
Ganhei minha Olivetti Lettera 35 em 1980. A possibilidade de, com ela contar histórias, me encantava. Era a ferramenta mais moderna que um país de portos trancados podia me oferecer.
Ao som de suas teclas se construía, especialmente para mim, a história de um país cheio de predicados cujo futuro brilhante estava cada vez mais próximo. Cresci com a visão de um porvir verde e amarelo. Eram os anos finais da ditadura militar no Brasil, mas suas ideias e ideais que se perpetuam ainda hoje culminaram em um país cindido em grupos beligerantes que se combatem no intervalo entre carnavais.
Muitos dos sentimentos que me identificavam com as noções de pátria, país e estado se modificaram. Notei, de maneiras diversas, a perda da compaixão. As pessoas se fechando em seus próprios umbigos; os poderes em seus bolsos.
Ao longo do caminho, a grandeza continental desse país foi esquecida e seu território usado em favor da produção da ignorância.
Os lugares públicos e privados foram infestados pelos discursos de ódio e das falácias digitais, desembocando em um palanque mambembe em cima do qual se vê festejar a falta de humanidade: uma ilha de insensibilidade no meio do mar da agnotologia.
Meu país, desgovernado, distrai-se com a produção de mitos infundados e o errôneo entendimento de uma abundância infinita dos seus recursos naturais. O futuro brilhante se esmaece. Resta o presente, doído e indócil, produto da pequenez de caráter daqueles que ocupam os cargos de poder somados à produção e distribuição em massa de inverdades.
Resta uma terra desconhecida cujo sentido se reescreve a partir da dificuldade. Resta dar a ver os fatos daquilo que a história não pode obliterar.






